Testes Nucleares dos Anos 60 Deixam Resíduos no Interior de SP
Pesquisa da USP revela impacto de testes nucleares dos anos 60 no interior de São Paulo.
Uma pesquisa da USP encontrou vestígios de radioatividade no interior de São Paulo, decorrentes de testes nucleares dos anos 60. Esses resíduos são vistos como indicadores do Antropoceno, período em que a atividade humana é a principal força de alteração ambiental.

Pesquisa da USP Revela Resíduos de Testes Nucleares no Interior de São Paulo
Uma pesquisa de mestrado conduzida na área de Geografia Física pela Universidade de São Paulo (USP) encontrou vestígios de radioatividade em ambientes pouco alterados pela ação humana no interior paulista. A investigação revelou indícios de testes nucleares realizados no início dos anos 1960, destacando a presença de materiais radioativos que podem ser considerados marcadores da ação humana em nível global.
O Antropoceno e a Radioatividade
Os indícios de radioatividade são vistos pela comunidade científica como um marcador do período denominado Antropoceno, em que a principal força de alteração dos ambientes naturais é a atividade humana. A radioatividade, resultado de reatores e armas nucleares, pode ser medida muitos anos após sua disseminação, servindo como referência para entender o impacto da espécie humana no planeta.
Testes Nucleares dos Anos 60
Entre 1953 e 1962, potências como os Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e França realizaram a maioria dos cerca de 2 mil testes nucleares registrados. Em 1962, ocorreram mais de 120 testes, enquanto em 1958 foram mais de 100. As bombas testadas, como a Tsar Bomb da União Soviética, eram até 3 mil vezes mais poderosas que a bomba de Hiroshima.
Fallout e sua Dispersão
Cada explosão nuclear gera ondas de choque, calor e espalha material radioativo conhecido como Fallout, ou chuva radioativa. Essa dispersão ocorre principalmente perto dos locais de teste, mas fatores como o vento podem transportá-la a grandes distâncias. Apesar de os testes se concentrarem no Hemisfério Norte, parte do material radioativo chegou ao Brasil, como evidenciado por medições no litoral da Região Sudeste e no interior paulista, particularmente entre as cidades de Eldorado e Sete Barras.
Impacto e Continuidade da Pesquisa
O material radioativo encontrado não possui concentração suficiente para representar risco à saúde, mas oferece um panorama histórico importante. Em 1963, após a pressão pública e eventos como a Crise dos Mísseis de Cuba, o Tratado de Proibição Parcial de Testes (PTBT) foi assinado, restringindo os testes nucleares.
Grupos de geofísicos continuam a investigar a presença de marcadores como o Carbono 14, os radioisótopos de Plutônio e o Césio-137 em áreas com baixa intervenção humana. Na USP, o Rio Ribeira foi escolhido como foco de estudo devido à sua preservação e conhecimento prévio pela equipe de geofísica da universidade.
Queríamos estudar a ocorrência de marcadores do Antropoceno em um sistema natural com alto grau de preservação de intervenções humanas", explicou Breno Rodrigues, pesquisador líder do estudo, à Agência Brasil.
A pesquisa, supervisionada pela professora Cleide Rodrigues, destacou o comportamento dos rios meândricos, como o Ribeira, na acumulação e preservação de traços de Césio-137. Este radionuclídeo, com meia-vida de 30 anos, continua presente nos sedimentos do rio, refletindo o fallout atmosférico da Guerra Fria.
A determinação da atividade do radionuclídeo ajuda a indicar a idade e origem específica do depósito na área", afirmou Rodrigues.
A pesquisa segue em andamento, com Breno Rodrigues agora como doutorando na área de Geografia. Sua dissertação será publicada em breve, enquanto suas participações em congressos fornecem mais insights sobre o estudo técnico.


